Já era previsível que a ideia do site "Fuck Yeah Diretor de Criação" ia dar o que falar. Depois de muitas verdades e mentiras, a brincadeira, para alguns de mal gosto, foi retirada do ar.
Marcelo Reis que já foi diretor de criação da DM9DDB resolveu mostrar a sua opinião sobre o assunto no site do CCSP. O Espaço é seu aqui também Marcelo.
Diretores de criação de merda. Anônimos idem.
Enquanto aguardava o embarque no aeroporto de Congonhas, na tarde desta quinta-feira (27/01/2011), recebi inúmeros telefonemas de amigos surpreendidos com um site que citava e esculachava todos os diretores de criação do mercado. Me explicaram tudo por alto, me parabelizaram pela minha performance neutra, mas só tive a oportunidade de assistir ao show de horror proporcionado por nós mesmos no início da noite.
Saí para jantar com minha família aliviado por não ser mau caráter, babaca, viado, bunda mole, puxa saco, filha da puta, ter mau cheiro, ser vendido ou minha mãe estar na zona cobrando barato. Ufa, me senti realizado por não ser mais um destes personagens monstruosos da propaganda brasileira ou, se for, ainda não ter sido descoberto pelos poderosos e covardes anônimos.
Que pena. Apenas três meses fora das agências e essa é a motivação que recebo para voltar.
Bem, mais ou menos meia-noite, hora em que volto para casa, me sinto na obrigação de escrever, mesmo que na sexta decida não mandar esta carta para o CCSP. Afinal, agora, eu estou me sentindo mais merda que todos os supostos merdas da diretoria ofendidos pelos próprios funcionários. Pois é, no jantar estava feliz por não ter sido humilhado e não precisar me envolver. Que patético sou eu.
Onde queremos chegar com tudo isso? Como conseguiremos nos impor perante nossos clientes quando nos expomos entre nós desta forma? Que grande retrocesso na nossa carreira, já marcada por problemas tão inusitados, estamos gerando?
Se estamos tão insatisfeitos assim com nossos chefes, temos total liberdade de pedir demissão e ficar em casa produzindo nossos próprios roteiros, nossos curtas, nossas pinturas, nossos longas, nossos freelas ou qualquer outra coisa brilhante que os incompetentes diretores de criação não conseguem entender e perceber como genial.
Que tal deixá-los sem mão de obra disponível? Temos sim o direito e a obrigação de enfrentar líderes considerados problemáticos, mas essa forma foi a pior possível para a gente, chefes ou não. Somos redatores e diretores de arte, podemos fazê-lo com mais elegância e persuasão.
Sim, trabalhamos numa profissão onde a subjetividade impera, a precocidade impera, a personalidade impera, a vaidade impera, a tensão impera. Mas isso era para ser um valor, não um defeito. Sim, temos chefes talentosos mal resolvidos como seres humanos e temos chefes medíocres bem resolvidos no lido com outras pessoas. E temos pessoas do bem nos dois aspectos também. Essas variações fazem parte do nosso negócio (que não é arte), desde que nunca passem do limite do respeito, é claro.
Talvez eu, você, todos nós um dia sejamos este chefe imperfeito. Mas vamos tentar sê-lo com o mínimo de dignidade. A mesma dignidade que não tivemos quando colocamos no ar e demos audiência a um blog vulgar como este, ou como tantos outros que já surgiram no passado, contando histórias pessoais que só dizem respeito aos seus próprios personagens.
Amo a mecânica desta profissão, o conflito saudável, adoro ralar e fritar a cabeça para ter uma ideia que preste e também me empolgo bastante vendo os criativos serem melhores do que eu quando criam, sem hipocrisia. Mas é só propaganda. Vamos tentar ser mais leves e felizes? Quero voltar mais animado para o mercado e não mais desanimado do que saí.
Fiquei enojado com tudo e até comigo mesmo. Escrevo não para me defender, nem para defender qualquer um (cada qual com seus problemas verdadeiros ou inventados), mas para defender todos nós. Agindo assim, como adolescentes revoltados, em quem você acha que o cliente vai confiar mais? Na gente ou no cara da agência, sentado ao nosso ao lado, que parece sério e veste terno e gravata? Estamos armando a arapuca para nós mesmos, como se diz aqui em Minas. Vamos dizer eternamente "sim senhor" para alguém que não sabe criar.
Na minha modesta opinião, quem faz nosso trabalho ser brilhante não somos NÓS, os diretores de criação. Até porque para exercer bem a função, mais importante que ter exagerado talento criativo, o que os diretores de criação devem ter de sobra é critério bom e capacidade de gerenciar e inspirar pessoas.
No fundo, somos NÓS, redatores e diretores de arte, que fazemos a roda girar e entregamos horas preciosas e angustiantes da vida em busca de uma única ideia boa (não estou falando de ideia para festival, muito menos de leões, que por sinal eu, incompetentemente, só tenho um, graças a Deus), eficiente, divertida e vendedora.
Se o exemplo de maturidade e criatividade que nós somos capazes de produzir para colegas, clientes e fornecedores é um mísero site medíocre, malfeito e pessimamente redigido em seu conteúdo colaborativo, aí sim estamos realmente fodidos. Os merdas somos todos nós, sem exceção.
Marcelo Reis
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